domingo, novembro 16
Alimento da alma
Calei todos os gritos do meu coração. Ele pedia por carinho, não há nada nesse mundo que o faça esquecer sua carência. Calei todos os gritos num copo de bebida doce e numa boca amarga. Gritei todos os meu medos... num gozo falso.
quinta-feira, novembro 13
Metido dentro de ti
Virgem nua
Um desejo
em carne tua
Florir
teu caminho
deleitar
meu corpo
em teu perfume
Colorir
de vermelho-
-sangue
os versos
de amor
que professo
em tua nua
sepultura
Um desejo
em carne tua
Florir
teu caminho
deleitar
meu corpo
em teu perfume
Colorir
de vermelho-
-sangue
os versos
de amor
que professo
em tua nua
sepultura
segunda-feira, novembro 10
Prometo teu fim
Vou me afogar dentro de você
pedir aos deuses teu sangue cru
me deleitar em teus braços
mastigar de tua carne
sorver de teus fluídos
Amansar esse medo
e no fim das contas
Meter em ti
meu espírito duro
E você irá gozar
de dor, de medo
de pavor!
pedir aos deuses teu sangue cru
me deleitar em teus braços
mastigar de tua carne
sorver de teus fluídos
Amansar esse medo
e no fim das contas
Meter em ti
meu espírito duro
E você irá gozar
de dor, de medo
de pavor!
sábado, novembro 8
Devaneios românticos
Já estou me vendo na cozinha apertada, o propósito é cozinhar alguma coisa comestível pro meu amor. Se vai sair, não sei, mas se é feito com carinho, há de se tragar com emoção.
Nos vemos deitados juntos, nem precisamos estar em cópula para nos sentirmos bem. Fazemos agrados um no outro, no rádio uma música a encher o ambiente, em nós dois, conversa mole, risos e paixão.
Me vejo junto da família. O primeiro encontro, eles me olhando meio assustados, o que eu tinha feito para conquistá-lo, sendo tão normal, sem grande beleza e tudo isso. O aperto de mão do sogro, o olhar meio azedo da sogra. A irmã perdida em seu próprio mundo adolescente.
Eu vejo até nossa primeira briga e depois a foda da reconciliação. Eu vejo tudo, e ele, beijando outra na tela do cinema, não vê porra nenhuma.
segunda-feira, novembro 3
Matando a gula
Doce de amendoim com cream cracker. Um pedaço de doce e um pedaço de sal. Os olhos observam o movimento da boca no espelho. É uma boca bem pequena, fina. Rebola o alimento de um lado para outro, um pedacinho de amendoim perdura no canto dos lábios, não usa a língua para tirá-lo, mas passa o dedo de leve por ali. Os tímpanos estouram com rock n roll, a boca se satisfaz com doce e sal, a barriga incha e o coração pesa. É saudade e é tédio.
domingo, novembro 2
Sofrimento
Sentada na sarjeta e sobre mim, chuva fina. As lágrimas misturam com as gotas de água e ninguém percebe que sentada aqui, está uma alma atormentada. Um desejo incontrolável de fumar, mas essa chuva não me permite esse gosto. Tenho vontade de gritar alto. Quero que escutem meu desamor, quero compartilhar essa dor. Alguém que me ouça!
Sentou ao meu lado alguém. Não viro meus olhos na direção do outro corpo. Sinto que o acumulo de água na região dos olhos dele está maior que permite a fina garoa. Põe as mãos em concha e acende um cigarro. Consigo um trago antes de apagar. Encosto meu corpo ali. Não falo nada, ele entende tudo. Ele também está sofrendo.
Somos dois corpos andando na escuridão. O frio que nos consome, também nos aquece.
sexta-feira, outubro 24
Teso
Quero gosto de sangue na boca
carne podre entre os dedos
imundícies sob os passos
pele humana e osso infante
Quero gozo de sangue nas coxas
mordidas e ataques ferozes
briga pelo poder, rasgos profundos
amor e morte
De você!
carne podre entre os dedos
imundícies sob os passos
pele humana e osso infante
Quero gozo de sangue nas coxas
mordidas e ataques ferozes
briga pelo poder, rasgos profundos
amor e morte
De você!
quinta-feira, outubro 23
De mim
Dizem que eu sou imortal
que não vou morrer nunca
que da minha carne
não sairá a alma
Dizem: tédio imortal
tipo chato, que nunca
tira das vistas essa carne
podre de alma
que não vou morrer nunca
que da minha carne
não sairá a alma
Dizem: tédio imortal
tipo chato, que nunca
tira das vistas essa carne
podre de alma
domingo, outubro 19
Em ti
Língua enroscada na orelha
desejo desenhado em lábios
os suspiros de prazer
as mordidas na bochecha
o arranhar da barba
o deslizar da saliva
o líquido da excitação
as covas preenchidas
os gritos em gozo
a troca de beijos úmidos
os carinhos namorados
desejo desenhado em lábios
os suspiros de prazer
as mordidas na bochecha
o arranhar da barba
o deslizar da saliva
o líquido da excitação
as covas preenchidas
os gritos em gozo
a troca de beijos úmidos
os carinhos namorados
sexta-feira, outubro 17
Eu me rendo
Penso que não
poderia mais viver com essa dor no meu peito. Escrevo para desafogar
as mágoas e para dirimir as amarguras. No mundo de prazeres que
pensei habitar, nem restam sombras ou cinzas. Restou em meu peito
pranto molhado e amargura condensada. As lágrimas caem dos olhos e
molham meu travesseiro, o ranho escorre do nariz, formam poça no
lábio superior, a dor é tamanha que nada poderia fazer para
retirá-la de cima de mim. Mas eu penso me render essa noite às
amarguras. De manhã vou tomar banho, passar a maquiagem e sorrir
para o mundo. Uma noite de solidão e uma vida inteira para matar
esse sentimento maldito que criou raízes no meu coração. Amanhã.
quarta-feira, outubro 15
Passional
E a gente brigou por
uma coisa tão boba. Nem lembro mais o motivo. Lembro sim, de tê-la
deixado sozinha na mesa do bar. Sozinha. Nunca mais voltei a ver seus
olhos escuros nem seus dentes levemente tortos. Nunca mais ouvi
aquele riso de felicidade nem suas broncas passageiras. Deixei a
mulher sozinha e sozinho estou eu hoje. Naqueles dias, quando eu a
tinha, fazíamos castelos no ar e os desmanchávamos com as linhas
tortas de nossas escritas. Eu recitava poesias de amor e ela
regurgitava tudo em contos de terror. Naquele dia da briga, eu disse
à polícia, brigamos e eu a deixei na mesa do bar. Notei que tinha
um cara de olho nela, talvez ele possa saber de alguma coisa? Como
ele era? Não poderia me lembrar exatamente, alto, forte, gordo até,
bem diferente da minha magreza loira. Não, o garçom não lembrava
de nada, mas eles nunca lembram sem você molhar a mão deles.
Naquela noite, eu fui dormir com as unhas cheias de sangue. Tive o
infortúnio de atropelar um cachorro. Botei ele na traseira do carro,
mas não levei no veterinário, pois não havia nenhum aberto àquela
hora. A polícia vem dizer que o sangue é dela, mas isso é
impossível, eu a deixei, sozinha, na mesa do bar. Aquela vaca, deve
ter feito isso para me incriminar. Deve ter espalhado sangue pelo meu
carro, e saído em uma longa viajem, nessa hora, deve estar rindo às
largas enquanto eu estou aqui, encarcerado e acusado de crime. Mas eu
não cometi nenhum crime, a deixei fofa e bela, sentada na mesa do
bar. Vadia!
segunda-feira, outubro 13
Linda
dessa forma que a vejo
formosa notas musicais
aroma de flores e mar
dançando pelas ondas
velejando em minh'alma
fazendo fantasias em mim
provocando o macho interno
da mulher que sou
Linda!
formosa notas musicais
aroma de flores e mar
dançando pelas ondas
velejando em minh'alma
fazendo fantasias em mim
provocando o macho interno
da mulher que sou
Linda!
sexta-feira, outubro 10
Ritual
As coisas estão quentes por aqui
desejo em carne viva
panela no fogão
espera
Vamos celebrar o amor à vida
comendo carne crua
sal e pimenta
gozo
desejo em carne viva
panela no fogão
espera
Vamos celebrar o amor à vida
comendo carne crua
sal e pimenta
gozo
terça-feira, outubro 7
Trato
queria sua pele aqui
encher de mordidas
linguá-la
Tirar seus suspiros
seu gozo propiciar
seu falo engolir
por todos os prantos
domingo, setembro 28
Definhar
Venho
me sentindo morta, todas as alegrias efêmeras, todos os sorrisos
forçados, todas as gargalhadas de desespero. Um forte sentimento de
solidão, um aperto no fundo da garganta, suspiros despejados pelos
cantos, um arrastar de ombos contra a gravidade, a alma caída, o
ânimo de prosperar findado, a vida em geral, perdida.
Pergunto
aos meus botões, que me trará felicidade? Que preencherá o vazio
que vai no coração? Não busco por dinheiro, nem por amor, nem por
companhia. Não busco as coisas vãs nem os risos alheios. Não busco
por nada, e por nada buscar, não vejo alegria nos meus olhos. Não
vejo alegria, pois eles não se abrem mais, como eu já disse, estou
morta por dentro, apenas definhando por fora.
quarta-feira, setembro 24
Nos ouvidos surdos
Quando o riso contagia
nessa louca tortura
nesse delírio enojante
o viver de passados
podridão na alma
cansaço de fazer bem
um maldito desejo
uma morte perene
e a sensação de sentir
que a morte é próxima
que da vida nada se leva
nem releva
nessa louca tortura
nesse delírio enojante
o viver de passados
podridão na alma
cansaço de fazer bem
um maldito desejo
uma morte perene
e a sensação de sentir
que a morte é próxima
que da vida nada se leva
nem releva
segunda-feira, setembro 22
Masturbação
Tava me sentindo
depressiva
com vontade de
chorar e tudo
os olhos ardendo,
mas secos
a música boa nem me
animava
de tanto em tanto a
solidão me pega
se eu sou dessas de
sofrer sozinha?
não posso negar o
fato
desci a mão pelos
seios
acariciei a barriga
senti arrepios
usei dos dedos seu
tato
um gozo propiciei
continuo sozinha,
foda-se
já estou
animadinha!
sexta-feira, setembro 12
Banido
Tinha nos olhos o brilho da saudade
Compunha inspirado em dores
trazia no peito os dedos apertados
sorria seus dentes tortos, chorava
Incompreendido logrou muitas esperanças
Acabou sozinho e abandonado
no meio dos que diziam lhe amar
Compunha inspirado em dores
trazia no peito os dedos apertados
sorria seus dentes tortos, chorava
Incompreendido logrou muitas esperanças
Acabou sozinho e abandonado
no meio dos que diziam lhe amar
domingo, agosto 24
Restos
Das nossas conversas
restaram ecos. Dos nossos risos, memórias. Das nossas alegrias, a
lembrança. Do nosso amor, um filho. Da nossa realidade, um desgosto.
sábado, agosto 16
Chuva na janela
Fumando meu cigarro
filtro branco
Revoltada
seu sabor amargo
chupo uma bala
de cereja
É paliativo
continua o amargo
igual ao coração
o meu
Sozinha nessa
paragem
fumando o que odeio
bebendo tragos
de saudade
suas
sexta-feira, agosto 15
Foi sexo
Mordida
no ombro
uma marca
uma tatuagem
de saliva
o chupão
no pescoço
o gozo do beijo
o riso incontido
os braços agarrados
os suspiros
uma puta
e um puto
diversão sexual
segunda-feira, agosto 11
Discussão existencial
— Tu devia parar
com a procrastinação.
— Vou.
— Hoje?
— Quem sabe?
— Caraca, tu é de
quebrar as pernas.
— Como poderia não
ser? Olho pra dentro de mim mesmo e o que? Vazio. Qual o sentido?
— Você já
deveria ter descoberto… pela quantidade de tempo que está aí,
sentado nesse sofá.
— A televisão me
ajuda.
— Há. Te ajuda em
que? Ajuda em procrastinar.
— Que é isso
mulher. É nela que eu encontro um objeto para preencher o meu vazio.
— Sei. Não quer
ajuda pra preencher esse vazio?
— Só ficar quieto
aqui, vendo o Programa Vazio da Tarde, obrigado.
— Tu é muito
descarado. Tá com vazio, tá? Vou te comprar um consolo, bem grande
e gordo… Ué, vai onde?
— Preencher meu
vazio cortando a grama do quintal.
— He… Mais útil
assim. Cuidado com o buraco, querido, pra não cair mato lá.
— Te ferrar,
mulher!
sábado, agosto 9
Eu também vou
Uma droga de nome coração
um aperto e uma batida forte
um agarro e o bichinho voa
voa de tristeza às vezes,
não
às vezes é só de tesão!
um aperto e uma batida forte
um agarro e o bichinho voa
voa de tristeza às vezes,
não
às vezes é só de tesão!
terça-feira, agosto 5
Conto: Abate
É
que tinha uma réstia de luz entrando pela janela. Meu coração
pulsava fraco com essa claridade, esperando a escuridão para se
libertar. Na fraca luz mirei meus olhos pelo espelho, negritude
rodeada de uma gosma branca, nos lábios descascados, aquele sorriso
de quem entende da malícia. Os dentes quase invisíveis na
escuridão, as axilas molhadas, o suor acima no buço, o cobertor
esquentando as costas, e o frio nos dedos dos pés, tudo denunciando
meu medo da luz. Na cabeça os piolhos em polvorosa, brigando pelo
meu sangue, ou caspa devorando-me em coceira, mas não coço, imagino
seus dedos mornos sobre mim, brincando comigo no meio da noite,
mordendo pra longe esse medo, de olhos fechados.
É
que essa luz denuncia, lábios inferiores mordidos, língua sobre
lábios secos, prelúdio de sua chegada, saliva de sua presença,
angústia de sua alma. Fico já em guarda, sem calcinha, sem calça,
sem meia, sem pudor, pernas abertas, frêmito no corpo todo,
esperando a escuridão tocar minhas partes, preencher meus vazios
expostos pela luz, meu ventre inchado, a criança mexendo, sua
chegada silenciosa.
Eis
que da luz não há mais réstia, o cativeiro colorido do sangue
delas desaparece ao meu olhar. A noite chegou contigo, e veio
arrebatadora. Posso sentir sua respiração sobre mim, além do vento
com o abrir da porta. Ao longe o uivo do cão, mais perto a sirene de
polícia, e cá você, pronto para mim, pronto para me satisfazer,
pronto ereto.
Nessa
escuridão ouço apenas o som da corrente batendo contra a parede, no
ritmo do nosso amor desvairado. Mal posso conter meus suspiros, você
entra em mim com força, seus trancos raivosos rivalizando com o
metal. Tudo às escuras alcançamos o êxito, engolimos nosso amor
dentro de nossa imensidão, o gozo escorre perna abaixo, o suor
inunda minhas papilas gustativas, um clarão sinistro e o cigarro
está acesso, o olho vermelho passa de boca em boca, uma dança
macabra refletida no espelho.
A
noite é passageira, quando do sol querendo despontar estou sozinha,
rodeada de imundícies, saciada de nosso amor selvagem. Quando da
manhã meu coração pulsando fraco, percebo na parede, fruto e feto
de nosso amor, os ossinhos pendurados, mortos de fome talvez, mas
ainda mortos. Conto seus corpos, seis, sete, vinte? Quem sabe, estão
aí me encarando, evito seus olhos e questionamentos, busco em meu
ventre uma vida pulsante, ainda vive. A luz faz-me ver, com olhos
escancarados, o horror ao qual estou acorrentada, uma parede colorida
em sangue arterial, um teto decorado com ossos infantis, um espelho
mais cruel que a realidade.
Fecho
os olhos com força. Buscando a escuridão atrás das pálpebras, mas
a negritude é colorida, luzes malditas pintam meus olhos, piscam
sobre minha desgraça. Falta o ar nessa hora, chorar é para os
fracos. Anseio pelo fim dessa luz abrasadora, a criança muda de
posição, eu mudo de lado no chão duro. Um gole de urina podre, um
pedaço de fungo e o café da manhã vai me sustentar até o banquete
da noite. Os ossos tremem de medo, medo pensam eles, desejo já sabe
o cérebro, apenas desejo. Que me venham às entranhas o carneiro pro
abate.
domingo, agosto 3
Notas de despedida
Tudo começa com um
despertar preguiçoso. As más lembranças ainda não se apresentam
aos processos da memória. Um espreguiçar, um levantar atordoado, um
suspiro de pesar para deixar a cama quente, no entanto solitária.
Quando se dá conta da ausência são os olhos que derramam sua dor
em lágrimas, o nariz entupido e um soluçar fraquinho. A face
distorcida no espelho.
Morder os lábios
até sentir o ferro do sangue. Abrir pequenas feridas pelo corpo, ver
brotar o sangue, sentir enjoos, comer comida estragada, horas a fio
no banheiro, um medo constante de deixar a casa, uma vontade
esquisita de se sentir viva.
O silêncio dentro
do quarto é preenchido com música ruim, mas não toca mais que
trinta segundo antes de ser trocada, por outra e outra. O acesso à
internet é constante, um abrir e fechar de páginas, sem destino.
A página aberta de
um documento office pisca para seus olhos. Os dedos deslizam sobre a
tela. Uma nota de despedida. Mais uma. Fecha e salva com o nome de
“SuicídioXXV”. Amanhã eu cometo, pensa. Amanhã.
sábado, agosto 2
Hoje vou morrer
Tem
tempos já estou insatisfeito com a minha vida. É sim, as coisas vão
de mal a pior, minha esposa anda me traindo, minhas filhas se
prostituem, minha mãe está saindo com um garoto de 22 anos e eu? Eu
estou em casa, tomando remédios para segurar a dor de cabeça que os
chifres dão. A colheita esse ano foi fraca, o dinheiro do banco
acabou, estou até aceitando o gozado cascalho das meninas para
comprar comida! Não, a coisa não vai bem. É hora de acabar com
tudo. O leite da Mimosa está quente e espumando na caneca, a manga
verde já cortei em finas tiras, só falta comer. Continuarei sendo
corno, mas do túmulo ninguém enxerga o chifre.
domingo, julho 27
Meu amor feminino III
Estamos juntas em
carne e alma. Levamos um amor de profunda pureza, quase etéreo. Ela
satisfaz minhas agruras, eu como as tristezas dela. Quando estamos
juntas, somos uma. Seu cabelo vermelho, sua boca cor-de-rosa, seus
olhos negros. Meus lábios secos de olhos brilhantes contemplam sua
magreza, suas ancas que se movimentam ritmadas sobre mim. Nossos
corações batem juntos, batem descompassados, batem agoniados pela
distância entre o café da manhã e o almoço no restaurante, e a
agonia perdura até a noite, quando nos movemos em uníssono uma
sobre a outra, colhendo os suspiros, entesourando os segredos,
tragando as respirações. Da colcha vermelha, a lavagem não pode
tirar o aroma de nosso gozo, nem a maciez de nossas entranhas.
domingo, julho 20
Despedida
hoje amanheceu chovendo
meu coração empapado
minhas vestes úmidas
hoje foi um noite difícil
daquelas de fazer tremer
o frio cortante
amanhã não vai amanhecer
amanhã deixará de existir
cadáver faço de mim
meu coração empapado
minhas vestes úmidas
hoje foi um noite difícil
daquelas de fazer tremer
o frio cortante
amanhã não vai amanhecer
amanhã deixará de existir
cadáver faço de mim
segunda-feira, julho 14
Liberdade
Tamborila o dedo no ritmo da música. O painel do carro queima de sol. O vento quente vem da janela aberta. O gosto da liberdade. Andar sem rumo, seguir as marcas da estrada, ir pra lugar nenhum, ir pra todo lugar. O cigarro no canto da boca, a música alta, a pista vazia, o céu azul, o óculos largado no banco do passageiro, o batom vermelho na boca. Quem se importa em ficar perdido, perdidos estão todos, deixe a estrada te levar, para longe das pessoas, para longe da metrópole, para longe dos moribundos com fome. O ponteiro da gasolina está no vermelho. Está na hora de acabar com a viajem, vamos fechar com chave de ouro. O alvo é o caminhão maior, para evitar maiores danos. 100 km/h, 120, 140, 160 e colisão. Falta o cinto, o corpo voa para a liberdade, a cabeça racha no asfalto, o corpo tremelica, o susto do pobre motorista, o infarte dele, a morte sua. A morte sua, o sorriso na sua boca. A liberdade veio te carregar nos braços.
sexta-feira, julho 11
Cachorro
Ficou me encarando
seus olhos pérfidos
Mil promessas nos
lábios
um sorriso de
sacanagem
A voz dando arrepios
tremores pelo corpo
sou garota má
tome-me
O vídeo acabou
e a realidade
me fez chorar,
sozinha
quinta-feira, julho 10
Nostálgico
É tudo meio triste aqui
das sombras nos cantos
às velas acesas
Tudo rescende à maldade
de uma paixão que veio
mas o tempo se encarregou
de matar
das sombras nos cantos
às velas acesas
Tudo rescende à maldade
de uma paixão que veio
mas o tempo se encarregou
de matar
sexta-feira, julho 4
sábado, junho 28
Solidão
No rádio música brega. Na noite uma lâmpada amarela acesa. Na madrugada um vazio no peito. Uma vontade de não sei o que, um desejo reprimido que não passa. Na solidão do quarto os olhos ardem, o buraco no peito aumenta, o desejo de alguém se faz mais forte. Na luz artificial da madrugada os olhos estalados, vermelhos, acompanham a fumaça do cigarro. A alma rodopia com ela, desfazendo-se ante os olhos, e a saudade lá, apertando as bordas do buraco, tudo mais profundo.
sexta-feira, junho 20
Língua
Eu estava aprendendo alemão, ele português. Treinávamos juntos, eu conversava na língua dele, ele na minha. Na hora da transa usávamos uma língua só.
quarta-feira, junho 18
segunda-feira, junho 9
Faíscas do antigo
Era um detalhe sem importância
relegado aos desígnios do passado
relíquia entesourada da memória
que volta e meia surgia na discussão
Ela trazia o assunto para a conversa
ele saia brilhantemente pela tangente
ela esquecia do assunto por hora
ele rememorava uma e outra vez o prazer
relegado aos desígnios do passado
relíquia entesourada da memória
que volta e meia surgia na discussão
Ela trazia o assunto para a conversa
ele saia brilhantemente pela tangente
ela esquecia do assunto por hora
ele rememorava uma e outra vez o prazer
segunda-feira, junho 2
Meu amor feminino II
Quando nos encontramos pela segunda vez, eu conhecia aquelas curvas macias de memória. Lembrava o som de seu gozo, o riso de sua satisfação e o sabor de sua língua, café e cigarro. Ela não me sorriu. De fato estava com uma cara raivosa. Veio até mim e me deu um tapa, na multidão. Assustamos as pessoas ao redor. Seus olhos marejaram, os meus escorreram lágrimas. Nos abraçamos, e tocamos nossas línguas sem nos importar com a plateia. Alguns ficaram revoltados, outros aplaudiram, eu não ouvi nada, estava finalmente nos braços dela, e minha agonia tinha acabado.
Quando acordei ao lado dela, de novo a colcha vermelha, fiquei contando sua respiração, as pintas do nariz, os pelos da sobrancelha, e não fui embora até ela acordar e me dar o beijo da despedida, e a promessa do amanhã.
Copo de café
viraste um copo de café sobre a mesa
aquilo escorreu numa enxurrada
depois passou a pingar gotas grossas
parece nosso amor naquela leveza
os corações batendo em debandada
e foi embora, caindo de mim grossas lágrimas
aquilo escorreu numa enxurrada
depois passou a pingar gotas grossas
parece nosso amor naquela leveza
os corações batendo em debandada
e foi embora, caindo de mim grossas lágrimas
terça-feira, maio 27
Sombra
Pessoas me olham na rua
Olho de volta
meus olhos sem vida
Ninguém nota quão morta eu estou
Ainda respiro, transpiro, mas por dentro
por dentro sou pó
Olho de volta
meus olhos sem vida
Ninguém nota quão morta eu estou
Ainda respiro, transpiro, mas por dentro
por dentro sou pó
sexta-feira, maio 23
De amor e solidão
Eu
te amo tanto. Se pudesse projetava meu amor para fora, envolveria
você em uma capa protetora de conforto. Meu amor é tão grande que
poesias e músicas não dariam conta de sua imensidão. Meu amor por
você é transcendente, é infinito, é além-mar.
Eu
te amo tanto, que meu desejo é você aqui mais uma vez, para
abraçar, cheirar, morder, apertar e sentir o gosto da sua
satisfação. Mas não posso, pois meu amor, agora mesmo, não vive
mais. Morto está, um estúpido acidente, e você não há mais, nem
para me consolar quando preciso, nem para me confortar quando
necessário, ou acalmar minhas dores e insanidade. De você, meu
amor, só peço seu coração.
Plantá-lo-ei
num vaso negro. Dentro dele há de germinar uma rosa vermelha.
terça-feira, maio 13
Arrepios
Gosto de sentir arrepios
Saber o corpo estremecendo
O fechar prazeroso de olhos
Seja um arrepio autoinduzido
Seja um arrepio de corpo externo
Saber o corpo estremecendo
O fechar prazeroso de olhos
Seja um arrepio autoinduzido
Seja um arrepio de corpo externo
domingo, maio 11
Tudo às Mães
Mãe é aquela que te olha e diz quão ridícula você está,
mãe não mente!
Mãe é aquela que fala o que todo mundo tá pensando,
mãe quer o seu bem!
Mãe é aquela que te dá um chacoalho bem necessário,
pra você deixar de fazer merda
Mãe tava lá quando você mais precisou, e vai continuar,
Mãe é pra se estimar, mas às vezes também dá raiva,
mas mãe é pra ser perdoada,
Mãe é mãe, mas também é mamãe, mama, mainha etc etc
mãe não mente!
Mãe é aquela que fala o que todo mundo tá pensando,
mãe quer o seu bem!
Mãe é aquela que te dá um chacoalho bem necessário,
pra você deixar de fazer merda
Mãe tava lá quando você mais precisou, e vai continuar,
Mãe é pra se estimar, mas às vezes também dá raiva,
mas mãe é pra ser perdoada,
Mãe é mãe, mas também é mamãe, mama, mainha etc etc
sexta-feira, maio 9
Conto: Sangue na escuridão
No sereno de uma madrugada fria, meus dedos dos pés buscavam refúgio numa meia furada. As pernas estavam envoltas com calças de flanela e os órgãos genitais tinham mais um conforto, fraldas de plástico egípcio. Mesmo assim, minhas bolas estavam geladas. O tórax estava revestido de uma camisa de político da última eleição, “vote em mim, para o bem e para o mau”, e sim, ela tinha esse erro de português mesmo. Busquei conforto num cobertor azul pirata, como dizia mamãe, e me escondi da madrugada dentro do meu quarto, com mil velas acesas e um castiçal. Na janela, tijolo, na porta, pregos, nas paredes, tinta branca.
Estava me borrando de medo, medo da noite. Só se ouvia um uivo lá fora, uivo do vento e da árvore torta ao peso de seu soprar, o cachorro no quintal, ladrando para almas penadas, ou gatos, que é a mesma coisa, e o sussurro dos demônios que vieram para me atormentar.
Levantar da cama é um suplício. Um gole de água e dois comprimidos boca abaixo. E já posso sentir a calmaria começar dos dedos dos pés para as bolas e o cérebro. Tento correr para a cama, mas ela está tão longe, tão pequena, tão distante, que tenho vontade de cantar 'so far away'. Depois nada, a escuridão veio me buscar em suas asas compridas.
Eu não acordo, mas sou acordado. Quando passa o efeito das minhas pílulas de placebo, eu me pergunto, com certa resignação, o motivo de não deixar a maldita ao lado da cama, devo ter desenvolvido certo prazer irracional de dormir no chão, e as malditas bolas geladas.
Não, eu não acordei. Fui acordado por ela, de nome escuridão, que há contecido com minhas velas? O tremor já começou pela garganta, o suor gelado saindo dos poros mofados, as lágrimas querendo escorrer dos olhos, os dentes numa dança frenética de cima a baixo, as unhas buscando a palma da mão, e o medo visceral manifesto numa vontade incontrolável de defecar. Não, não. Não me atrevo a me mover, tenho muitas fraldas. As bolas dos olhos estavam criando vórtices em sua órbita, procurando luz na senhora negritude. E encontrou, atrás de mim tinha uma única vela acesa, bem fraquinha, quase morrendo. Tão rápido quanto um homem dando à luz seu filho intestinal poderia se mover, busquei conforto nesse pedaço de luz que entrava nos raios da minha visão, mas eis que, dei com ele, o corpo da garganta cortada me sorria com um rio de sangue fluindo dela. E me reconheci naquele corpo, mais jovem talvez. E o sorriso se expandiu numa careta, e ele andou para mim. Busquei pela pílula, mas dessa vez ele foi mais rápido que eu, jorrou seu sangue sobre mim, engoli um pouco, vomitei o resto, prostrei-me aos seus pés, pedi clemência, só mais uma vez.
quarta-feira, maio 7
Visitas noturnas
Eu não creio em
diabo, mas todas as noites ele costumava me visitar. Chegava vermelho
em sua masculinidade, abria minhas pernas e me possuía, com vigor.
Derramava seu sêmen no meu ânus estéril e dizia, com voz gozada,
quão seguro eu estava, que ele me cuidava, que me amava. Bendizia
minha incapacidade de falar, e secava minhas lágrimas, dizia que
chorar era bom para os dutos lagrimais. Até os dias de hoje sinto
dúvidas se o vermelho era o sangue das fezes (tão proclamado pelas
babás), ou a cor de seus olhos (que eu imaginava na única cor que
presumia conhecer), se o aroma de enxofre era dele ou meu, se na
escuridão dos meus olhos cegos eu realmente via sua luz rubra, seu
contorno com chifres, sua língua boca afora. Não, não, minhas
dúvidas são dolentes demais para rememorar.
Mas em meus sonhos,
em todos os sonhos, em todas as noites – que pra mim não tem
diferença, sinto a mesma dor, o mesmo medo, o sempre desespero que
sou partidário, que não vivo sem, que me faz viver, para todos os
dias gozar da vida, seu aroma fétido, sua cor escarlatina, seu tom
ofegante, sua mordida cheia de dentes, seu sêmen de fogo. E no fim,
para coroar minhas memórias, o rangido da porta e seu clique
silencioso… se ele entrou ou saiu.
segunda-feira, maio 5
Confissão
Venho contando a você, sobre meu passado, há dias
dias em que procuro mais de mim em você
para sanar as feridas e tapar os buracos
Venho dependendo do seu amor, e compreensão
que não sou mais jovem e tola, mas bem velha acabada
que no fim de sua vida quer se ver livres das dores antigas
e dos erros cometido imprudentemente, jovem destemida
dias em que procuro mais de mim em você
para sanar as feridas e tapar os buracos
Venho dependendo do seu amor, e compreensão
que não sou mais jovem e tola, mas bem velha acabada
que no fim de sua vida quer se ver livres das dores antigas
e dos erros cometido imprudentemente, jovem destemida
domingo, abril 27
Meu amor feminino
Eu estava almoçando num restaurante
popular. Mais educadamente que o normal. Eu a vi. Eu me apaixonei. Eu
nunca tinha me apaixonado por mulheres antes, ou seja, eu era
heterossexual, mas veja só como são as coisas, eu nem a conhecia,
mas estava apaixonada.
Ela não me olhou, senão quando eu
estava indo embora, pois tenho pouca confiança, nunca chegaria nela.
Ela chegou em mim. Sentou a minha frente e perguntou se eu estava partindo. Ela tinha gotas de Júpiter em seus cabelos, cantava a
música que eu ouvia, e ela tinha mesmo, ela tinha. Saímos juntas do
restaurante. Sentamos em um banco na praça, e conversamos. Sobre
tudo, sobre ela, sobre mim, sobre meus medos, sobre os medos dela.
Aquele dia eu não voltei para o trabalho, nem voltei para casa. Aquele
dia acabou comigo deitada em uma cama de colcha vermelha, com uma
mulher gostosa sobre mim, e acabou também a minha virgindade. Eu
tinha 20 anos. Eu estava apaixonada pela primeira vez. Eu estava
andando no ar. Quando eu olhei para ela dormindo ao meu lado, eu me
perguntei o que eu tinha feito para conseguir aquilo. Eu não
merecia. E eu fui embora.
quinta-feira, abril 24
Meu monstro
Hmmm... e tem um monstro
na minha cama, embaixo dela
ah, esse meu monstro safado
não faz a barba pra dar cócegas
esse ordinário cheio de charme
fica aí mesmo
que meu marido já chegou!
na minha cama, embaixo dela
ah, esse meu monstro safado
não faz a barba pra dar cócegas
esse ordinário cheio de charme
fica aí mesmo
que meu marido já chegou!
terça-feira, abril 22
Da vida
Na vida, não procuro nada
não peço por nada
e não espero nada
o que vier tá bom
o que chegar, chegou
ou quem parar, parou
assim não há decepção
mas parece que também
não há emoção
não peço por nada
e não espero nada
o que vier tá bom
o que chegar, chegou
ou quem parar, parou
assim não há decepção
mas parece que também
não há emoção
sexta-feira, abril 11
Coisas más
Fiz uma coisa má hoje
não ajudei a quem podia
não devolvi a quem devia
não respondi a quem queria
Fiz uma coisa horrível hoje
matei do tempo sua capacidade
extraí da verdade sua mentira
envenenei a alegria com falácias
deturpei o amor só de maldade
Fazemos coisas horríveis todos os dias
amamos quem não devemos
beijamos quem não queremos
agradamos quem não merece
invejamos quem não somos
à revelia de uma vida cheia de meias verdades e
meias fedidas
não ajudei a quem podia
não devolvi a quem devia
não respondi a quem queria
Fiz uma coisa horrível hoje
matei do tempo sua capacidade
extraí da verdade sua mentira
envenenei a alegria com falácias
deturpei o amor só de maldade
Fazemos coisas horríveis todos os dias
amamos quem não devemos
beijamos quem não queremos
agradamos quem não merece
invejamos quem não somos
à revelia de uma vida cheia de meias verdades e
meias fedidas
quinta-feira, abril 10
Reflexão de tempo
Com muita frequência, eu me sinto velha
(velha cansada)
e não é coisa dos anos não, é da cabeça
(esgotamento)
das coisas que te fazem pensar em tempo
(ou memórias)
em coisas que você passou com penúria
(ou com folga)
pessoas que ficaram vivas no passado
(e estão no presente longe de ti)
e você se pergunta sobre sua idade
ou insanidade (?)
(velha cansada)
e não é coisa dos anos não, é da cabeça
(esgotamento)
das coisas que te fazem pensar em tempo
(ou memórias)
em coisas que você passou com penúria
(ou com folga)
pessoas que ficaram vivas no passado
(e estão no presente longe de ti)
e você se pergunta sobre sua idade
ou insanidade (?)
Convite sombrio
Vamos brincar de morrer?
Eu pretendo sua morte
e você pretende morrer
E se a gente (você) morrer
juro que compareço ao seu funeral
Eu pretendo sua morte
e você pretende morrer
E se a gente (você) morrer
juro que compareço ao seu funeral
quarta-feira, abril 9
Dando as mãos
Estava escuro
tinha uma mão
segurando a minha
que bem estava
que bom
que pena
no presente
só está escuro
minha mão,
vazia
tinha uma mão
segurando a minha
que bem estava
que bom
que pena
no presente
só está escuro
minha mão,
vazia
segunda-feira, abril 7
Olhos seduzentes
Sempre pensei que tinha os olhos bem comuns
são castanhos, rodeado de cílios negros, belo formato
e admirava os olhos azuis, verdes, bem maquiados
mas então, que me olho aos olhos! E bem, que belos são
têm umas raias mais escuras, um diâmetro perfeitinho
Se posso dizer uma coisa sobre eles, são especiais
e deixam de ser comuns, e afirmo afoita que,
que só vai ver quão especial eles são, quem de perto olhar
e se perto dos olhos está, as bocas se tocam com paixão!
são castanhos, rodeado de cílios negros, belo formato
e admirava os olhos azuis, verdes, bem maquiados
mas então, que me olho aos olhos! E bem, que belos são
têm umas raias mais escuras, um diâmetro perfeitinho
Se posso dizer uma coisa sobre eles, são especiais
e deixam de ser comuns, e afirmo afoita que,
que só vai ver quão especial eles são, quem de perto olhar
e se perto dos olhos está, as bocas se tocam com paixão!
quinta-feira, abril 3
Nada de brincadeiras
Brincava. Do verbo brincar
Significa, modo grosso, diversão
Não, nada se pode aplicar
Quando o assunto é o coração
Brincar com o coração
Não é divertido, não
(Só para os médicos!)
Significa, modo grosso, diversão
Não, nada se pode aplicar
Quando o assunto é o coração
Brincar com o coração
Não é divertido, não
(Só para os médicos!)
terça-feira, abril 1
Mal²
Sempre que penso que algo vai mal
esse algo prova quão errada estou
não vai mal, vai horrivelmente mal
Esses desafios, Vida, tem que parar
veja bem, querida, não aguento mais
se vai mal, faça ir bem, não piore,
Porém!
esse algo prova quão errada estou
não vai mal, vai horrivelmente mal
Esses desafios, Vida, tem que parar
veja bem, querida, não aguento mais
se vai mal, faça ir bem, não piore,
Porém!
quarta-feira, março 26
Do meu futuro
Essa noite, enquanto fazia minhas
corriqueiras atividades
tive um vislumbre do meu futuro, e
afirmo
nada como esperava, nem pior do que
desejado
mas, ora, que coisa, queria ainda poder
pensar mudar
e revirar ao ar meus futuros problemas
e cometer erros
agora eu não tenho essa chance, e
sabendo o que sei
o que resta fazer pra mudar isso, penso
eu,
resta morrer, logo morta, não terei
aquele futuro
e da cremação que espero, que as
cinzas vão ao mar
mar de lágrimas e desespero alheio,
dos que me amam
e dos que dizem amar, e que suas
lágrimas falsas
completem do mar sua salinidade
segunda-feira, março 24
Fazendo história
Nos movimentos das palavras, e no brincar dos dedos sobre o papel, pesa minha alma sua subida ao céu dos encantos interiores. Brinca minha mão com os dedinhos dos pés, fazendo-os subir e descer de forma desumana, mas o cérebro não detecta dor, ele está preocupado com a poesia viva que em mim respira.
sábado, março 22
Nem desculpas nem nada
Sinto que me aproveitei de você
te tratei como lixo
conforme as minhas necessidades
Desculpe isso, prezo mais a mim
que a você
Vadia, pensa teu ego
nada a declarar
te tratei como lixo
conforme as minhas necessidades
Desculpe isso, prezo mais a mim
que a você
Vadia, pensa teu ego
nada a declarar
Cassino
Era um cassino. Rolavam dados e emoções
E no canto, tudo olhando, estava você
Olhos em mim, comendo de mim minha aura
Nada fiz, dei a ti as costas e fui,
Fui para as garras da perdição
E no canto, tudo olhando, estava você
Olhos em mim, comendo de mim minha aura
Nada fiz, dei a ti as costas e fui,
Fui para as garras da perdição
quarta-feira, março 19
segunda-feira, março 17
Datas, velhas datas
Foi um choque
e foi triste ver e saber
que depois de alguns anos
algumas datas que foram tão importantes
passaram na surdina, esquecidas, esquecidas
e o choque de olhar o calendário e dar com elas?
e foi triste ver e saber
que depois de alguns anos
algumas datas que foram tão importantes
passaram na surdina, esquecidas, esquecidas
e o choque de olhar o calendário e dar com elas?
domingo, março 16
A sina das Marias
Maria era seu nome de batismo. Nascida em 1974. 40 anos de idade. Aprendeu a usar o computador nem bem dois anos. Primeiro movimento, criar um tal de Facebook. Todo mundo tinha Facebook, ela também precisou de um.
Tinha uma rotina. Alimentar os filhos para a escola. Lavar a louça e então, abrir o Facebook, e ali permanecer até a hora de fazer o almoço. Apesar de adorar ficar online, pouco comentava ou curtia as postagens. Também não compartilhava muito. Seu prazer era ser voyer das postagens alheias.
Tinha uma rotina. Alimentar os filhos para a escola. Lavar a louça e então, abrir o Facebook, e ali permanecer até a hora de fazer o almoço. Apesar de adorar ficar online, pouco comentava ou curtia as postagens. Também não compartilhava muito. Seu prazer era ser voyer das postagens alheias.
Um dia isso mudou. Foi em uma tarde de chuva. A casa estava limpa, as crianças estavam fora, o marido estava dormindo. Maria gostava de olhar, uma e outra vez, fotos de seus amigos. Admirar peitorais alheios, desejar bíceps musculosos ou criticar a beleza feminina. Abriu primeiro o álbum de fotos de Márcia, sua melhor amiga. Na primeira foto Márcia estava de perfil, metade dos seios recheados à mostra. E Maria não se conteve no pensamento: "Eu sei que esses peitos são murchos". Foto seguinte, "Que nariz ridículo. Faz uma plástica aí, Capiroto". E algumas fotos mais, ela cansou. Foi ver as fotos de Marcelo, velho amigo de infância. Primeira foto, ele e a mulher, "Mulherzinha ridícula, te chuto o rabo em gostosura. Esse homem deveria ter sido meu, vadia". Foto seguinte, ele sem camisa, "Te lambo inteiro, seu gostoso", foto seguinte, a filha dele, "Vadia igual a mãe". A seguinte foto ela não viu. O marido acordou querendo sexo.
"Esse nojento quer fazer sexo de novo". "Nem sabe mexer direito". "Que hálito podre. Escove esses dentes, seu nojento". "Melhor fingir que já gozei, pra ele acabar logo". "Goza igual um porco, roncando". "Agora dorme, nem pra transar direito. Nunca gozei com você seu estúpido". "Casar com pobre dá nisso, crianças nojentas, marido nojento". "Que nojo. Vou tomar banho".
Quando Maria voltou a abrir o Facebook, lá estavam, todos os seus pensamentos publicados. Todos. E os comentários? E as perguntas? E a falsidade? Uns elogiavam sua coragem, a parte ofendida desferia blasfêmias merecidas. Maria não podia acreditar. Ficou horas sentada na frente do computador, tentando entender o que tinha acontecido. E excluir os comentários? Impossível. E a cada pensamento seu, uma nova publicação surgia. "Que aconteceu?" "Isso não tá acontecendo comigo". Só que estava. O marido abriu o Facebook a noite, do celular leu e chorou com os comentários. Coitado, ainda apaixonado. Ter sua intimidade exposta assim. As crianças ficaram entre magoadas e divertidas. "Ela lamberia o tio Marcelo".
Até hoje, se você abrir a página de Maria, vai poder ver seus pensamentos. É impossível excluir a conta, e após o divórcio e a solidão, sua página só deixou de receber atualizações quando Maria morreu, morreu limpamente, com uma facada no estômago.
E assim, outra Maria, em outro lugar qualquer da minha vasta imaginação, passou a ter seus pensamentos publicados no Facebook.
E assim, outra Maria, em outro lugar qualquer da minha vasta imaginação, passou a ter seus pensamentos publicados no Facebook.
sábado, março 15
Perversão
Havia sobre a mesa… pedaços humanos. Pedaços femininos. Éramos quatro à mesa. O corpo era meu, aliás é meu. Neste momento sou um espectro que revoa a mesa, olhando os outros três comensais se deleitarem com minha carne suculenta e adocicada. Eu estava sentada na cabeceira da mesa, e degustei meus próprios seios. Era minha parte preferida, macia e dura ao mesmo tempo, que uma vez trouxe leite ao meu filho e suspiro aos meus amantes. E cortando a carne em delicados pedaços, com um salpico de sal e orégano, comi na presença deles, meus dois mamilos, em primeiro lugar, e o resto devorei, igual uma porca sem educação, meti a cara no prato, lambi, suguei o sangue da carne cru, remoí pedaço por pedaço, e mastiguei com afinco. Comi sozinha, e nos olhos deles assuntei o desejo e a inveja. A vontade de provar do gosto. Mas esse deleite era meu. Dane-se a sociedade, e fodam-se os moralistas!
Após isso, estava satisfeita, o resto era deles. Uma boa carne precisa ser amaciada. Senti cada pancada como um presente celestial. Acoitaram-me a gosto nosso. E antes de morrer pedi, um último gozo, e despejaram sobre mim seu sêmen e a última gota desceu sobre meu corpo enquanto eu subia do plano terrestre para o espiritual. E ali observei, com facas grandes e afiadas, cada pedaço arrancado e cada mordida dada em carne cru. E quando o afã passou, levaram minhas partes para a panela, e produziram um ensopado com as nádegas, e assaram as coxas, e cozinharam os pés. O resto foi sacramente ensacado. Ninguém compraria carne por um longo tempo em minha casa.
Éramos quatro sobre a mesa. Meu pai, meu marido, meu filho e eu.
Nesse fim, espero que o conto tenha cumprido com a promessa do título.
Dedico à uma amiga, super normal, que me forneceu material inspirador. To Érica.
Deixe seus comentários revoltosos.
sexta-feira, março 14
Sobre o Bar
O bar é uma vida. É a exogênese do mundo. Depois da criação dos autótrofos, eles se reuniram e criaram um bar onde podiam conversar besteiras e produzir fotossíntese. Tenho a mais absoluta certeza disso. O bar é uma entidade que leva nas costas uma horda de demônios arruaceiros. Juro!
Alguns pensam que é um meio de vida. Ledo engano. O bar está no sangue. Está n'alma. Está onde você pensa que está, com um pormenor, o bar vive sem você e você não vive sem o bar, simples assim.
segunda-feira, março 10
Vermelho
Meus olhos estão ardendo
estou cansada
noites insones
pensamentos inquietos
meus olhos estão vermelhos
mas não de choro e mágoas
são da fumaça
estou queimando e fumando
meu coração
estou cansada
noites insones
pensamentos inquietos
meus olhos estão vermelhos
mas não de choro e mágoas
são da fumaça
estou queimando e fumando
meu coração
sábado, março 8
Egoísmo coletivo
Parabéns para mim
sou feliz, mas sofri
e sorri e vivi
e em uníssono morri!
Hoje é o dia das Mulheres. Umas palavras não bastam para confeccionar um sentido para todas as mulheres que foram felizes, ou não. Que morreram em sossego, ou agonia. E para mulheres que enfrentam todos os dias humilhações e desrespeito. Todas as mulheres devem gritam, PARABÉNS PARA MIM! Pois merecem, e juntam sussurramos em alto som.
quinta-feira, março 6
Não esqueça do amor
Não esqueça do amor
não
Lembre-se da dor
sua
Implore por mim
querida
Não esqueça do amor
bandida
não
Lembre-se da dor
sua
Implore por mim
querida
Não esqueça do amor
bandida
terça-feira, fevereiro 25
Isso mesmo
É, tô atacada mesmo
falando verdades
e destruindo mentiras
dane-se o bom senso
liberto-me
e dane-se você
falando verdades
e destruindo mentiras
dane-se o bom senso
liberto-me
e dane-se você
segunda-feira, fevereiro 24
A pessoa ao lado
Sentei ao lado de uma pessoa
pareceu simpática
me sorriu com dentes e tudo
belos olhos azuis, e verdes
belos lábios, com carne e saliva
abriu a boca, e dali saiu tudo
menos coerência
fui embora decepcionado
fui embora com ouvido em sangue
pareceu simpática
me sorriu com dentes e tudo
belos olhos azuis, e verdes
belos lábios, com carne e saliva
abriu a boca, e dali saiu tudo
menos coerência
fui embora decepcionado
fui embora com ouvido em sangue
domingo, fevereiro 23
Homem sujo
Um homem sujo. Longa barba, longo bafo. Orarei por sua alma. Não darei o dinheiro. Ele vai consumir em álcool e bebidas.
Um homem sujo. Senti pena. Não ofereci comida. Nem nada. Orarei por sua alma, no céu não vai ter fome.
Um homem sujo. Morto na calçada. Chamei a polícia. Que barbaridade.
Um homem sujo. Senti pena. Não ofereci comida. Nem nada. Orarei por sua alma, no céu não vai ter fome.
Um homem sujo. Morto na calçada. Chamei a polícia. Que barbaridade.
sábado, fevereiro 22
Beronha
E tinha uma beronha
e a beronha sozinha estava
cantado suas dores ao mundo
e veio um vento suave que ela gostou
e uma chuvinha fina que ela adorou
e que abrasou as dores da beronha
beronha tola, morreu feliz
com inseticida
há tantas beronhas no mundo
morrendo felizes com inseticida
e há tantos tipos de inseticida
que me dá pena pensar
na felicidade (...) alheia
e a beronha sozinha estava
cantado suas dores ao mundo
e veio um vento suave que ela gostou
e uma chuvinha fina que ela adorou
e que abrasou as dores da beronha
beronha tola, morreu feliz
com inseticida
há tantas beronhas no mundo
morrendo felizes com inseticida
e há tantos tipos de inseticida
que me dá pena pensar
na felicidade (...) alheia
quinta-feira, fevereiro 20
Neurótica
Descobri, assim, meio sem querer
uma coisa antiga, do passado, diria
e foi sua primeira namorada, da escola
e você disse uma vez, que não, jamais
Não era de se esperar sua sinceridade
escondendo de mim seu passado escuro
suas mentiras cruéis, seu canalha desgraçado
Vou dar um basta, viu?
cortar sua cabeça, arrancar seu coro
furar suas tripas...
Tchau, amor
também te amo!
uma coisa antiga, do passado, diria
e foi sua primeira namorada, da escola
e você disse uma vez, que não, jamais
Não era de se esperar sua sinceridade
escondendo de mim seu passado escuro
suas mentiras cruéis, seu canalha desgraçado
Vou dar um basta, viu?
cortar sua cabeça, arrancar seu coro
furar suas tripas...
Tchau, amor
também te amo!
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