Eu não creio em
diabo, mas todas as noites ele costumava me visitar. Chegava vermelho
em sua masculinidade, abria minhas pernas e me possuía, com vigor.
Derramava seu sêmen no meu ânus estéril e dizia, com voz gozada,
quão seguro eu estava, que ele me cuidava, que me amava. Bendizia
minha incapacidade de falar, e secava minhas lágrimas, dizia que
chorar era bom para os dutos lagrimais. Até os dias de hoje sinto
dúvidas se o vermelho era o sangue das fezes (tão proclamado pelas
babás), ou a cor de seus olhos (que eu imaginava na única cor que
presumia conhecer), se o aroma de enxofre era dele ou meu, se na
escuridão dos meus olhos cegos eu realmente via sua luz rubra, seu
contorno com chifres, sua língua boca afora. Não, não, minhas
dúvidas são dolentes demais para rememorar.
Mas em meus sonhos,
em todos os sonhos, em todas as noites – que pra mim não tem
diferença, sinto a mesma dor, o mesmo medo, o sempre desespero que
sou partidário, que não vivo sem, que me faz viver, para todos os
dias gozar da vida, seu aroma fétido, sua cor escarlatina, seu tom
ofegante, sua mordida cheia de dentes, seu sêmen de fogo. E no fim,
para coroar minhas memórias, o rangido da porta e seu clique
silencioso… se ele entrou ou saiu.
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