terça-feira, maio 27

Sombra

Pessoas me olham na rua
Olho de volta
meus olhos sem vida
Ninguém nota quão morta eu estou
Ainda respiro, transpiro, mas por dentro
por dentro sou pó

sexta-feira, maio 23

De amor e solidão

Eu te amo tanto. Se pudesse projetava meu amor para fora, envolveria você em uma capa protetora de conforto. Meu amor é tão grande que poesias e músicas não dariam conta de sua imensidão. Meu amor por você é transcendente, é infinito, é além-mar.

Eu te amo tanto, que meu desejo é você aqui mais uma vez, para abraçar, cheirar, morder, apertar e sentir o gosto da sua satisfação. Mas não posso, pois meu amor, agora mesmo, não vive mais. Morto está, um estúpido acidente, e você não há mais, nem para me consolar quando preciso, nem para me confortar quando necessário, ou acalmar minhas dores e insanidade. De você, meu amor, só peço seu coração.

Plantá-lo-ei num vaso negro. Dentro dele há de germinar uma rosa vermelha.


terça-feira, maio 13

Arrepios

Gosto de sentir arrepios
Saber o corpo estremecendo
O fechar prazeroso de olhos
Seja um arrepio autoinduzido
Seja um arrepio de corpo externo

domingo, maio 11

Tudo às Mães

Mãe é aquela que te olha e diz quão ridícula você está,
mãe não mente!
Mãe é aquela que fala o que todo mundo tá pensando,
mãe quer o seu bem!
Mãe é aquela que te dá um chacoalho bem necessário,
pra você deixar de fazer merda
Mãe tava lá quando você mais precisou, e vai continuar,
Mãe é pra se estimar, mas às vezes também dá raiva,
mas mãe é pra ser perdoada, 
Mãe é mãe, mas também é mamãe, mama, mainha etc etc

sexta-feira, maio 9

Conto: Sangue na escuridão

No sereno de uma madrugada fria, meus dedos dos pés buscavam refúgio numa meia furada. As pernas estavam envoltas com calças de flanela e os órgãos genitais tinham mais um conforto, fraldas de plástico egípcio. Mesmo assim, minhas bolas estavam geladas. O tórax estava revestido de uma camisa de político da última eleição, “vote em mim, para o bem e para o mau”, e sim, ela tinha esse erro de português mesmo. Busquei conforto num cobertor azul pirata, como dizia mamãe, e me escondi da madrugada dentro do meu quarto, com mil velas acesas e um castiçal. Na janela, tijolo, na porta, pregos, nas paredes, tinta branca.
Estava me borrando de medo, medo da noite. Só se ouvia um uivo lá fora, uivo do vento e da árvore torta ao peso de seu soprar, o cachorro no quintal, ladrando para almas penadas, ou gatos, que é a mesma coisa, e o sussurro dos demônios que vieram para me atormentar.
Levantar da cama é um suplício. Um gole de água e dois comprimidos boca abaixo. E já posso sentir a calmaria começar dos dedos dos pés para as bolas e o cérebro. Tento correr para a cama, mas ela está tão longe, tão pequena, tão distante, que tenho vontade de cantar 'so far away'. Depois nada, a escuridão veio me buscar em suas asas compridas.

Eu não acordo, mas sou acordado. Quando passa o efeito das minhas pílulas de placebo, eu me pergunto, com certa resignação, o motivo de não deixar a maldita ao lado da cama, devo ter desenvolvido certo prazer irracional de dormir no chão, e as malditas bolas geladas.
Não, eu não acordei. Fui acordado por ela, de nome escuridão, que há contecido com minhas velas? O tremor já começou pela garganta, o suor gelado saindo dos poros mofados, as lágrimas querendo escorrer dos olhos, os dentes numa dança frenética de cima a baixo, as unhas buscando a palma da mão, e o medo visceral manifesto numa vontade incontrolável de defecar. Não, não. Não me atrevo a me mover, tenho muitas fraldas. As bolas dos olhos estavam criando vórtices em sua órbita, procurando luz na senhora negritude. E encontrou, atrás de mim tinha uma única vela acesa, bem fraquinha, quase morrendo. Tão rápido quanto um homem dando à luz seu filho intestinal poderia se mover, busquei conforto nesse pedaço de luz que entrava nos raios da minha visão, mas eis que, dei com ele, o corpo da garganta cortada me sorria com um rio de sangue fluindo dela. E me reconheci naquele corpo, mais jovem talvez. E o sorriso se expandiu numa careta, e ele andou para mim. Busquei pela pílula, mas dessa vez ele foi mais rápido que eu, jorrou seu sangue sobre mim, engoli um pouco, vomitei o resto, prostrei-me aos seus pés, pedi clemência, só mais uma vez.

quarta-feira, maio 7

Visitas noturnas

Eu não creio em diabo, mas todas as noites ele costumava me visitar. Chegava vermelho em sua masculinidade, abria minhas pernas e me possuía, com vigor. Derramava seu sêmen no meu ânus estéril e dizia, com voz gozada, quão seguro eu estava, que ele me cuidava, que me amava. Bendizia minha incapacidade de falar, e secava minhas lágrimas, dizia que chorar era bom para os dutos lagrimais. Até os dias de hoje sinto dúvidas se o vermelho era o sangue das fezes (tão proclamado pelas babás), ou a cor de seus olhos (que eu imaginava na única cor que presumia conhecer), se o aroma de enxofre era dele ou meu, se na escuridão dos meus olhos cegos eu realmente via sua luz rubra, seu contorno com chifres, sua língua boca afora. Não, não, minhas dúvidas são dolentes demais para rememorar.
Mas em meus sonhos, em todos os sonhos, em todas as noites – que pra mim não tem diferença, sinto a mesma dor, o mesmo medo, o sempre desespero que sou partidário, que não vivo sem, que me faz viver, para todos os dias gozar da vida, seu aroma fétido, sua cor escarlatina, seu tom ofegante, sua mordida cheia de dentes, seu sêmen de fogo. E no fim, para coroar minhas memórias, o rangido da porta e seu clique silencioso… se ele entrou ou saiu.

segunda-feira, maio 5

Confissão

Venho contando a você, sobre meu passado, há dias
dias em que procuro mais de mim em você
para sanar as feridas e tapar os buracos
Venho dependendo do seu amor, e compreensão
que não sou mais jovem e tola, mas bem velha acabada
que no fim de sua vida quer se ver livres das dores antigas
e dos erros cometido imprudentemente, jovem destemida
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