E a gente brigou por
uma coisa tão boba. Nem lembro mais o motivo. Lembro sim, de tê-la
deixado sozinha na mesa do bar. Sozinha. Nunca mais voltei a ver seus
olhos escuros nem seus dentes levemente tortos. Nunca mais ouvi
aquele riso de felicidade nem suas broncas passageiras. Deixei a
mulher sozinha e sozinho estou eu hoje. Naqueles dias, quando eu a
tinha, fazíamos castelos no ar e os desmanchávamos com as linhas
tortas de nossas escritas. Eu recitava poesias de amor e ela
regurgitava tudo em contos de terror. Naquele dia da briga, eu disse
à polícia, brigamos e eu a deixei na mesa do bar. Notei que tinha
um cara de olho nela, talvez ele possa saber de alguma coisa? Como
ele era? Não poderia me lembrar exatamente, alto, forte, gordo até,
bem diferente da minha magreza loira. Não, o garçom não lembrava
de nada, mas eles nunca lembram sem você molhar a mão deles.
Naquela noite, eu fui dormir com as unhas cheias de sangue. Tive o
infortúnio de atropelar um cachorro. Botei ele na traseira do carro,
mas não levei no veterinário, pois não havia nenhum aberto àquela
hora. A polícia vem dizer que o sangue é dela, mas isso é
impossível, eu a deixei, sozinha, na mesa do bar. Aquela vaca, deve
ter feito isso para me incriminar. Deve ter espalhado sangue pelo meu
carro, e saído em uma longa viajem, nessa hora, deve estar rindo às
largas enquanto eu estou aqui, encarcerado e acusado de crime. Mas eu
não cometi nenhum crime, a deixei fofa e bela, sentada na mesa do
bar. Vadia!
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