sábado, março 15

Perversão

Havia sobre a mesa… pedaços humanos. Pedaços femininos. Éramos quatro à mesa. O corpo era meu, aliás é meu. Neste momento sou um espectro que revoa a mesa, olhando os outros três comensais se deleitarem com minha carne suculenta e adocicada. Eu estava sentada na cabeceira da mesa, e degustei meus próprios seios. Era minha parte preferida, macia e dura ao mesmo tempo, que uma vez trouxe leite ao meu filho e suspiro aos meus amantes. E cortando a carne em delicados pedaços, com um salpico de sal e orégano, comi na presença deles, meus dois mamilos, em primeiro lugar, e o resto devorei, igual uma porca sem educação, meti a cara no prato, lambi, suguei o sangue da carne cru, remoí pedaço por pedaço, e mastiguei com afinco. Comi sozinha, e nos olhos deles assuntei o desejo e a inveja. A vontade de provar do gosto. Mas esse deleite era meu. Dane-se a sociedade, e fodam-se os moralistas! 
Após isso, estava satisfeita, o resto era deles. Uma boa carne precisa ser amaciada. Senti cada pancada como um presente celestial. Acoitaram-me a gosto nosso. E antes de morrer pedi, um último gozo, e despejaram sobre mim seu sêmen e a última gota desceu sobre meu corpo enquanto eu subia do plano terrestre para o espiritual. E ali observei, com facas grandes e afiadas, cada pedaço arrancado e cada mordida dada em carne cru. E quando o afã passou, levaram minhas partes para a panela, e produziram um ensopado com as nádegas, e assaram as coxas, e cozinharam os pés. O resto foi sacramente ensacado. Ninguém compraria carne por um longo tempo em minha casa.
Éramos quatro sobre a mesa. Meu pai, meu marido, meu filho e eu.


Nesse fim, espero que o conto tenha cumprido com a promessa do título.
Dedico à uma amiga, super normal, que me forneceu material inspirador. To Érica.

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