Tudo começa com um
despertar preguiçoso. As más lembranças ainda não se apresentam
aos processos da memória. Um espreguiçar, um levantar atordoado, um
suspiro de pesar para deixar a cama quente, no entanto solitária.
Quando se dá conta da ausência são os olhos que derramam sua dor
em lágrimas, o nariz entupido e um soluçar fraquinho. A face
distorcida no espelho.
Morder os lábios
até sentir o ferro do sangue. Abrir pequenas feridas pelo corpo, ver
brotar o sangue, sentir enjoos, comer comida estragada, horas a fio
no banheiro, um medo constante de deixar a casa, uma vontade
esquisita de se sentir viva.
O silêncio dentro
do quarto é preenchido com música ruim, mas não toca mais que
trinta segundo antes de ser trocada, por outra e outra. O acesso à
internet é constante, um abrir e fechar de páginas, sem destino.
A página aberta de
um documento office pisca para seus olhos. Os dedos deslizam sobre a
tela. Uma nota de despedida. Mais uma. Fecha e salva com o nome de
“SuicídioXXV”. Amanhã eu cometo, pensa. Amanhã.
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