quinta-feira, junho 18

À espera de uma pergunta

A nota desagradável da vida que passa e a gente nem percebe. As conversas nunca ditas em voz alta. Nunca tive coragem de perguntar a ele se me amava. Nunca me disse também. Quando estava dividida entre o que fazer, seguir com o amor platônico ou seguir a vida com alguém real, me disse, seja minha, e eu fui. 

terça-feira, maio 12

Incerto

E esses olhos marejados
e essa dúvida no peito
a sensação de que 
a vida é um vazio

o dia mais triste da minha vida
não é hoje
mas poderia ser

quinta-feira, abril 23

Bebês não choram, sobrevivem

Ninguém ama ninguém. Vivemos num mundo fodido que sobrevive o mais forte, e o mais fraco sobrevive também, mas é o primeiro a sofrer das doenças que o mundo pestilento espalha por aí. Hoje magoaram o meu coração. Eu sou uma garota forte, mas lágrimas já caíram sem razão dos meus olhos. Ninguém deveria magoar uma garota. Nenhuma garota deveria magoar ninguém. Queria te fazer engolir minhas lágrimas num copo de chá com veneno, mas isso seria injusto, pois nem foi tua culpa. Você apenas foi morto pelas circunstâncias. Qual sua culpa de ocupar o lado fraco da corrente?

Queria ter você aqui e te meter um chute no rabo. Você que deveria chorar por mim. Maldito inferno. O sol queima a minha cabeça. O cemitério está colorido demais para ser um antro de decomposição. As pessoas me dão condolências. Nosso filho tem dois anos, não entende nada do que se passa. Outro fodido na vida. Você consegue imaginá-lo vencendo a vida? Não. Será outro perdido no mundo, vou me encarregar de fazê-lo ver que sua mãe é uma puta vagabunda e bêbada, e se ele superar essa, vai ser uma grande vitória.

Seu pai foi um grande merda. Sua mãe é uma vadia. Que vida fodida a sua, meu querido filho. A chupeta azul pende da boca macia. Quero abracá-lo e me afundar em sua maciez infantil. Não posso. Meu filho não merece a mãe que tem. 

 – Fique sentado aqui, querido. A mamãe já volta.

Nunca mais o vi.

quinta-feira, abril 9

O bêbado da rodoviária


Claro, tinham nos pegado bêbados de novo. Quando que estamos juntos sem estar com um drink na mão? Na cabeça bolada, as pessoas passam e riem de nossa capacidade limitada. Andamos em círculos por nossa loucura e sorrimos até mesmo para os que fazem de nós motivo de escárnio. A vida é fodida, e nós sabemos disso. Enquanto eu encaro o relógio marcando 5 horas, eu penso que falta uma hora para acabar. Penso no começo da noite e no outro bêbado, da outra rodoviária. Ele me encarou de boca aberta, admirando minha cara lavada? Meu batom vermelho? Um reflexo do que viria?

- Ei, acorda!

Meu parceiro não se incomoda em seguir meu conselho. Meu olhos ardem. Não tenho fome, nem frio, nem satisfações para dar. O bêbado tinha me perguntado para onde eu estava indo. Como diabos eu poderia saber? Alguém sabe realmente?

Eu beberia mais uma dose de tequila, basta oferecer, mas antes, preciso mijar.



terça-feira, janeiro 27

Pensamentos noturnos

No escuro posso sentir o peso da sua respiração na minha nuca, a mão morna que envolve um dos seios, a perna pesada que se entremeia entre as minhas. Posso sentir o suor da noite em sua pele, o hálito de menta da pasta já se foi há tempos. Meus olhos seguem abertos depois de muito que você adormeceu. Penso em mim e penso em nós. Penso que não sei o que pensar. Quero me mover, mas você me mantém cativa. Odeio isso, queria que estivesse morto.

terça-feira, janeiro 20

Beijos

Colei meus lábios no pulso dela, imaginei ouvir sua frequência cardíaca e o fluir de seu sangue escuro. Passei a língua pelas linhas de sua pele macia e refutei um beijo úmido. Deixei a saliva ali, como que para marcá-la com meu sabor. Levei meus olhos nos dela. Eles estavam fechados, a boca um pouco aberta deixava passar o doce hálito de sua respiração. Imaginei o sabor de seu sangue na minha língua.

domingo, novembro 16

Alimento da alma

Calei todos os gritos do meu coração. Ele pedia por carinho, não há nada nesse mundo que o faça esquecer sua carência. Calei todos os gritos num copo de bebida doce e numa boca amarga. Gritei todos os meu medos... num gozo falso.

quinta-feira, novembro 13

Metido dentro de ti

Virgem nua
Um desejo 
em carne tua

Florir 
teu caminho
deleitar
meu corpo
em teu perfume

Colorir 
de vermelho-
-sangue
os versos 

de amor
que professo
em tua nua
sepultura

segunda-feira, novembro 10

Prometo teu fim

Vou me afogar dentro de você
pedir aos deuses teu sangue cru
me deleitar em teus braços
mastigar de tua carne
sorver de teus fluídos

Amansar esse medo
e no fim das contas

Meter em ti
meu espírito duro

E você irá gozar
de dor, de medo
de pavor!

sábado, novembro 8

Devaneios românticos

Já estou me vendo na cozinha apertada, o propósito é cozinhar alguma coisa comestível pro meu amor. Se vai sair, não sei, mas se é feito com carinho, há de se tragar com emoção.

Nos vemos deitados juntos, nem precisamos estar em cópula para nos sentirmos bem. Fazemos agrados um no outro, no rádio uma música a encher o ambiente, em nós dois, conversa mole, risos e paixão.

Me vejo junto da família. O primeiro encontro, eles me olhando meio assustados, o que eu tinha feito para conquistá-lo, sendo tão normal, sem grande beleza e tudo isso. O aperto de mão do sogro, o olhar meio azedo da sogra. A irmã perdida em seu próprio mundo adolescente.

Eu vejo até nossa primeira briga e depois a foda da reconciliação. Eu vejo tudo, e ele, beijando outra na tela do cinema, não vê porra nenhuma.
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