domingo, julho 27

Meu amor feminino III

Estamos juntas em carne e alma. Levamos um amor de profunda pureza, quase etéreo. Ela satisfaz minhas agruras, eu como as tristezas dela. Quando estamos juntas, somos uma. Seu cabelo vermelho, sua boca cor-de-rosa, seus olhos negros. Meus lábios secos de olhos brilhantes contemplam sua magreza, suas ancas que se movimentam ritmadas sobre mim. Nossos corações batem juntos, batem descompassados, batem agoniados pela distância entre o café da manhã e o almoço no restaurante, e a agonia perdura até a noite, quando nos movemos em uníssono uma sobre a outra, colhendo os suspiros, entesourando os segredos, tragando as respirações. Da colcha vermelha, a lavagem não pode tirar o aroma de nosso gozo, nem a maciez de nossas entranhas.

domingo, julho 20

Despedida

hoje amanheceu chovendo
meu coração empapado
minhas vestes úmidas

hoje foi um noite difícil
daquelas de fazer tremer
o frio cortante

amanhã não vai amanhecer
amanhã deixará de existir
cadáver faço de mim

segunda-feira, julho 14

Liberdade

Tamborila o dedo no ritmo da música. O painel do carro queima de sol. O vento quente vem da janela aberta. O gosto da liberdade. Andar sem rumo, seguir as marcas da estrada, ir pra lugar nenhum, ir pra todo lugar. O cigarro no canto da boca, a música alta, a pista vazia, o céu azul, o óculos largado no banco do passageiro, o batom vermelho na boca. Quem se importa em ficar perdido, perdidos estão todos, deixe a estrada te levar, para longe das pessoas, para longe da metrópole, para longe dos moribundos com fome. O ponteiro da gasolina está no vermelho. Está na hora de acabar com a viajem, vamos fechar com chave de ouro. O alvo é o caminhão maior, para evitar maiores danos. 100 km/h, 120, 140, 160 e colisão. Falta o cinto, o corpo voa para a liberdade, a cabeça racha no asfalto, o corpo tremelica, o susto do pobre motorista, o infarte dele, a morte sua. A morte sua, o sorriso na sua boca. A liberdade veio te carregar nos braços.

sexta-feira, julho 11

Cachorro

Ficou me encarando
seus olhos pérfidos
Mil promessas nos lábios
um sorriso de sacanagem

A voz dando arrepios
tremores pelo corpo
sou garota má
tome-me

O vídeo acabou
e a realidade
me fez chorar,
sozinha

quinta-feira, julho 10

Nostálgico

É tudo meio triste aqui
das sombras nos cantos 
às velas acesas

Tudo rescende à maldade
de uma paixão que veio
mas o tempo se encarregou
de matar

sexta-feira, julho 4

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