Tédio predomina. Tédio, tédio,
tédio.
Não tenho porra nenhuma pra fazer. Nem
matar quero hoje. Assassina entediada, pode? Talvez, se eu trocar os
objetos dos meus crimes. Estou entediada de matar o tempo. Pensei em
infanticídio, parricídio não dá por que já fizeram o trabalho
por mim. Cachorrocídio, gatocídio, borbolocídio... não me importo
se essas palavras não existem, o tédio é tanto que estou me
sentindo aquele escritor que inventava palavras, qual o nome dele?
Preciso matar alguma coisa. O próximo
que passar pela minha frente. Maldito azarado.
Peguei a chave do carro, botei um
forrozão e fui estrada afora. Vento no rosto, sangue no zóio.
Matar, matar, matar, matar. E um imbecil pede carona. Claro que eu
dou. É hoje!
O nome dele era Carlos, 24 anos, órfão,
olhos azuis. Dei pra ele, não matei. Droga.
Virei o carro, depois de deixar ele em
casa e me perdi. Isso mesmo, não sabia mais como chegar em casa, fui
parar numa favela. Fui roubada. Não matei ninguém, aliás, chorei e
implorei pra não ser morta. Humilhante.
Até aí o tédio tinha passado, estava
com medo do caralho. Dei de cara com uma mulher-macho que achou que
eu precisa de proteção e de ser bolinada, quase fui estuprada. Eu
até gostei, mas na hora que deu uma brecha saí correndo que nem o
diabo. Caí numa vala de esgoto. Gente, meu tédio numa hora dessa,
estava até com saudade. E a vontade de matar? Só o tempo estava bom
demais.
Depois do meu fedor, ninguém chegou
perto. Ri sozinha. Que merda, literalmente. Começou a chover. Dei boas vindas à água. Providencial.
Continuei andando. Saí da favela e
entrei numa área residencial. Isso era de madrugada já. Onde estava
não sei, deitei esgotada perto de um portão e cochilei. Acordei com
um chute na costela. Doeu hein? Puta merda. Nem gemi, tamanha dor.
Gritaram pra eu ir dormir em outro lugar, etc. Tentei argumentar,
pedir informação, qualquer coisa. Levei um soco na cara. Acordei na
delegacia. Fiquei aliviada, até descobrir que estava sendo acusada
de roubo. Vê se pode. Demorou séculos pra esclarecer minha
situação. Quando cheguei de volta ao meu muquifo, estava morta. Que
reviravolta. Tédio seja abençoado. A partir de agora, nada de dar
carona pra ninguém, matar tudo bem.
E aí, entediado?
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